Denúncia das práticas de recolha e venda de Yamadori em Portugal

Durante muitos meses pensei sobre se iria escrever este texto!
Mas estou convicto que as coisas só mudarão para um plano positivo se as práticas que estão a decorrer em Portugal forem denunciadas e todos os interessados em Bonsai estiverem conscientes dos riscos que implica actualmente comprarem Yamadori em Portugal.
Sinto ser da minha responsabilidade contar a minha experiência pois a actual maneira de recolher e vender material Yamadori por parte de algumas pessoas em Portugal denota uma total falta de ética e técnica no trabalho e falta de respeito pelos clientes.

Nos últimos anos comprei a várias pessoas Yamadori recolhido e vendido em Portugal.
E a minha conclusão três anos mais tarde é que nunca mais o irei fazer e tenho a obrigação de alertar todas as pessoas que o pretendam fazer para pensarem muito seriamente antes do fazer (e por favor não o façam enquanto a situação não mudar!) pois vão-se arrepender!
O risco de perderem as árvores compradas a estas pessoas são elevadíssimos!
Se houverem pessoas que contestem o que estou a escrever poderei apelar aos alunos dos meus cursos que seguiram todo este triste desenrolar de acontecimentos para testemunharem o que viram.

Esse é o motivo pelo qual escrevo este texto pois depois de lidar com alguns desses vendedores que regularmente se publicitam a eles próprios em fóruns só posso tirar a conclusão que a falta de técnica e ética na recolha e venda desse material impera.

O que mais me enfurece e entristece nesta situação é que a partir do momento em que o cliente começa a ter problemas com o material adquirido, por este ter sido vendido demasiado cedo depois da recolha, por ter sido envasado em solo totalmente impróprio para um bom desenvolvimento radicular, e por ter sido "disponibilizado" por esses "vendedores" na maior parte dos casos anos antes de efectivamente estarem prontos para ser vendidos, todos eles têm a mesma resposta já pronta: a culpa dos problemas com o material é sempre invariavelmente do cliente (e não do vendedor que o vendeu consciente do facto das árvores não terem tido tempo de recuperarem convenientemente) que o comprou por preços demasiado elevados para a qualidade e condição em que as árvores muitas vezes estão!
Alerto também os clientes que depois de muito insistirem com as suas reclamações acerca do material que compraram e que tenham a "sorte" de lhes ser oferecida uma troca por outra árvore, para não o aceitarem pois isso não será nenhuma garantia dos problemas serem resolvidos pois certamente as árvores oferecidas estarão no mesmo solo e nas mesmas condições que as outras.
O meu conselho é: exijam o vosso dinheiro de volta devido à "mercadoria" pura e simplesmente não estar em condições de ser vendida.

Sei que algumas pessoas irão argumentar que eu aqui no blog tenho publicado algum material que comprei e que pelos vistos o material está em condições de ser trabalhado!
A minha resposta a essas pessoas é: sim realmente trabalhei se não estou enganado dois Pinus comprados em Portugal, mas para tirar dúvidas posso mostrar fotos das outras dezenas de árvores material por mim comprado que depois de um dois ou mesmo três anos não estão ainda em condições de serem trabalhados, ou de todo o material que depois de enormes esforços para não o deixar morrer mesmo assim perdi.

De facto muito do material que comprei por bons preços (e concretamente no caso das Myrtus) de facto eram pedaços de troncos serrados sem uma única raiz plantados em terra péssima e aqueles que criaram alguma raiz e esparsa folhagem foram-me vendidos apressadamente como estando bem "estabilizados" sendo "disponibilizados" por estes "vendedores" (uma maneira de nomear todo o material por eles escavado com o fim de ser vendido mas isto não assumidamente pois as outras pessoas devem pensar que eles por um qualquer favor especial estão dispostos a venderem algum do seu suberbo material parte das suas colecções) .
No caso dos Pinus que comprei todos sem excepção  foram-me vendidos demasiado cedo!
Num desses Pinus inclusive tinha sido feita uma poda que como mais tarde me vim a informar com bons profissionais (porque esses felizmente ainda existem!) com anos de experiência que me informaram que numa árvore no seu estado de saúde NUNCA deveria ter sido feita.
No entanto quando eu informei o vendedor desse material do actual estado de saúde da árvore a sua primeira reacção foi dizer-me que eu de facto sabia que tinha comprado uma árvore que estava demasiado fraca para ser vendida e que como ele me tinha dito quando da aquisição estava disposto a tomar a responsabilidade (que simpático!) e se a árvore morresse a trocaria por outra.
Quando eu respondi que queria o meu dinheiro de volta por não ter a mínima confiança nas condições de "outro" material foi-me dito novamente que estava disposto a fazer uma troca sem nunca concordar em me dar o meu bom dinheiro de volta (neste caso 500€ com desconto "profissional").
Aliás todos os Pinus comprados a este "vendedor" reagiram no primeiro ano da estadia aqui não crescendo NADA. Quero com isto dizer que na Primavera nenhum deles alongou as velas ou cresceu uma nova agulha que fosse.
Tenho aqui no viveiro Pinus de várias proveniências incluindo alguns escavados nos Alpes Franceses e posso vos assegurar que nenhum alguma vez reagiu desta forma excepto os deste senhor.
Explicar o facto só com um "é da diferença de clima" não é verdadeiro pois estes Pinus vindos dos Alpes Franceses sofreram uma diferença de clima do sitio da compra até aqui muito mais severa e contudo nenhum deles sofreu com isso brotando vigorosamente todas as Primaveras.
A minha experiência diz-me que os Pinus deste senhor nem sequer tiveram tempo para aclimatizar no sitio onde foram tratados (a escassos quilómetros dos locais de recolha) e essa é a razão para este comportamento totalmente anormal. 

De facto também algum do material Yamadori que comprei no estrangeiro embora tendo sido recolhido por profissionais estava também em mau solo.
A diferença abismal entre esse material e o comprado aqui em Portugal é que tinha recuperado durante suficiente tempo antes de ser vendido, criado boas raízes e todos estavam em condições de imediatamente serem trabalhados.

Outro ponto que me choca é que algum do material que me foi oferecido sendo "disponibilizado" das colecções destes ditos "comerciantes" (não assumidos pois não querem que os seus nomes sejam referidos como a fonte desse material,! porque é que será???) a que refiro e no caso concreto de um Juniperus (uma variedade de jardim totalmente incompatível com um bom treino de Bonsai) essa árvore foi-me oferecida pelo preço de 700€ e qual não foi o meu espanto quando algum tempo mais tarde vi a mesma árvore num blog espanhol estando á venda por cento e poucos €?.
Isto demonstra a total arbitraridade dos preços "inventados" por estes "comerciantes" e o inflacionamento ilógico e vergonhoso do mesmo material!!!

Assim e concluindo, enquanto no mercado nacional operarem pessoas como estas que vendem material Yamadori sem oferecerem as mínimas garantias aos compradores da sobrevivência do material que recolhem (eu diria arrancam sem nenhuns escrúpulos pois as histórias sobre recolhas de material Yamadori são bem comuns para aqueles que as querem ouvir!)  acho meu pleno direito de alertar todas as pessoas para não comprarem esse material pois o dinheiro nele investido na maior parte dos casos será um investimento perdido em que, no caso das árvores em questão todas as "culpas" serão dos compradores e nenhuma dos vendedores como estes querem fazer crer aos compradores de boa fé.

Eu nunca comprei a estes charlatães material para depois ser obrigado a tratar dessas árvores durante anos antes delas estarem em condições de serem vendidas ou de serem trabalhadas.
A politica paternalista tão comum em Portugal dos amigos dos amigos serem sempre protegidos não deveria neste caso continuar a proteger estas práticas pois elas são pura e simplesmente condenáveis corroendo os alicerces dum mercado saudável e de confiança.
Às pessoas que tiverem alguma dúvida sobre as minhas intenções ao escrever este texto posso fornecer sem limitações fotos que ilustram bem tudo o que disse!

Forneço aqui uma lista vários dos pontos que compradores de Yamadori devem ter em conta antes dos adquirir.
Árvores caducas ou folhosas devem ter no mínimo um período após a recolha de um ano, mostrando novo e vigoroso crescimento já feito no local da venda, estas árvores devem estar ambientadas no exterior expostas aos elementos.
Coníferas devem ter no mínimo 2 anos após a recolha, preferivelmente 3, devem também apresentar bom crescimento feito no local da venda (no caso de Pinus se as novas agulhas forem muito pequenas isto pode ser um sinal que a árvore está fraca e ainda precisa de mais um período de recuperação até poder ser vendida).
Os solos usados devem ser drenantes e sem misturas de turfas e ou compostos.
Akadama deveria ser o ingrediente principal destes solos misturada com areão, e estou certo que todos os possíveis clientes prefeririam pagar mais alguns € e ter a certeza das árvores estarem plantadas em terra conveniente do que estas estarem plantadas no solo mais barato possível só com o fim do maior lucro do "vendedor".
Outro factor muito importante é que em 95% casos de árvores que vi para venda estas não estavam presas aos vasos ou caixas onde estavam plantadas convenientemente com arame (se é que o estavam de todo!) ou o calibre do arame utilizado para o efeito era de todo inapropriado assim como a drenagem dos vasos não era efectiva pois muitos que vi embora fossem de plástico e tivessem bom aspecto de facto mantinham poças de água no interior devido aos buracos de drenagem se situarem mais altos que os fundos dos ditos vasos.
Um "vendedor" preocupado com a qualidade do material que vende certamente já teria possibilidade de saber os efeitos tanto dos ineficazes arames (ou a sua falta) e o que significa a falta de estabilidade fisíca para uma planta num vaso, e as consequências para o crescimento radicular dessas funestas poças de água no interior dos vasos combinadas com a péssima qualidade dos solos que utilizam.
Portanto se as plantas não estão bem ancoradas nos vasos estejam conscientes dos riscos que isso implica.
Outra coisa que considero muito importante é que os consumidores exijam logo de inicio que no caso de terem problemas claramente relacionados com a situação de origem das árvores a devolução da totalidade do dinheiro gasto.

Sem essas exigências por parte do consumidor final a situação actual não irá mudar.

Neste texto até agora nem me referi à maneira selvagem como árvores são arrancadas às dezenas sem nenhuma ética sem nenhum respeito pela propriedade privada acabando na maior parte dos casos tristemente no lixo pelos seus colectores não terem nem os conhecimentos nem as circunstâncias para as poderem tratar convenientemente sendo nestes casos as árvores as vitimas desse comportamento.

Estou certo que depois da publicação deste texto algumas pessoas ficarão furiosas comigo!
A minha resposta a essas pessoas é que façam uma auto-análise!
E tentem compreender se esses sentimentos vêm da necessidade de encontrar um bode expiatório como reacção ao que escrevi ou se esta critica toca num ponto que até agora permaneceu impune nas suas vidas mas que certamente necessita mudança para o bem de todos.


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