Yamadori





MÉTODOS ONORTODOXOS PARA A SOBREVIVÊNCIA DE MATERIAL RECOLHIDO


Acerca de Yamadori já muito foi dito!
Penso que certamente não é uma técnica para principiantes e penso também que só se deve tentar acompanhado por alguém que tenha mais experiência ou no mínimo depois de recolhermos o mais possível informação acerca desta matéria.
E acima de tudo fazendo-o com respeito pelo material e dando-lhe todas as possibilidades de sobrevivência depois da recolha.

O meu trabalho não é a recolha de Yamadori mas sim o tratamento e formação de árvores até se tornarem Bonsai.
Contudo fiz e farei Yamadori numa base esporádica se o material que encontro tiver bom potencial.

Infelizmente algum do material por mim recolhido no passado não sobreviveu por falta de conhecimentos e ou condições.

O clima do Algarve e as condições de terreno também são totalmente distintas das que estava habituado mais para o Norte da Europa e por isso tive que reaprender tudo o que sabia.

Este texto não é uma tentativa de explicar como fazer Yamadori ou aprofundar o tema, nem tão pouco um incentivo a que outras pessoas o façam.
ACIMA DE TUDO ESTE MÉTODO NÃO É MILAGROSO OU UM SUBSTITUTO PARA OS CUIDADOS BÁSICOS DE TRATAMENTO DE MATERIAL YAMADORI.

Quero sómente partilhar uma técnica que talvez possa ajudar a sobrevivência de alguns exemplares recolhidos.
Técnica esta que descobri por acaso.


Por mero acaso e infelicidade faz alguns anos numa recolha que fiz, ao mexer o tronco da planta que estávamos a escavar para sentir a sua resistência e poder determinar o sitio onde estavam as raízes principais ouvi um estalo da madeira que me congelou o sangue nas veias.
O pesadelo de qualquer pessoa que lide com Bonsai tinha com este estalo acontecido.
O tronco da árvore tinha sem uma aparente razão lógica, pura e simplesmente partido logo acima do existente nebari enterrado.
Fiquei na minha mão com um tronco que acabava num couto partido sem uma única raiz.

A minha primeira reacção foi envolver o couto com um pano molhado como faria também com as raízes (se a operação tivesse corrido normalmente) e levar a árvore para casa.

Chegado a casa deixei o tronco dentro de um recipiente com água da chuva toda a noite até ao dia seguinte (como também faço normalmente com plantas que recolho).
Isso deu-me tempo para pensar na melhor estratégia para tentar salvar a árvore.

No dia seguinte pus em prática um simples plano baseado na minha experiência.
Proteger demasiado as plantas recolhidas pode ser tão nefasto como dar cuidados a menos.

Uma estufa pode ser uma bênção na ajuda da recuperação de Yamadori mas também pode ser a pior das coisas se essa estufa não for bem arejada.

Mas como este tronco não tinha uma única raiz colocá-lo na adaptação a estufa que fiz de um telheiro pareceu-me essencial na sobrevivência deste exemplar, depois de envolver o couto partido em musgo Sphagnum atado ao couto com ráfia.
Plantei o tronco em Akadama e para dar a maior possibilidade de sobrevivência á árvore envolvi todo o tronco logo a partir da superfície do solo com gaze (rolos de gaze utilizada normalmente para proteger feridas) só deixando os últimos 10 cm do topo descoberto para eventual novo crescimento poder eclodir sem problemas.

Pulverizando duas vezes ao dia a gaze e só regando o solo quando secava um pouco esperei.

Na minha opinião o ciclo diário de manter a gaze húmida deixando-a secar ligeiramente antes de voltar a humedecer não só mantém o tronco hidratado assim como penso provoca um ligeiro movimento ascendente/descendente da seiva provocando na minha opinião uma espécie de circulação artificial da seiva (ou pelo menos um começo rudimentar da mesma) isto em conjunto com o Sphagnum no touco (que mantém uma humidade e temperatura constante) foram dois factores determinantes no sucesso desta história.

Cerca de um mês mais tarde a planta começou a brotar na parte sem gaze do topo.
Continuei o mesmo tratamento de pulverização incluindo agora também as folhas até ao amadurecimento das mesmas.

Só parei a pulverização nesta altura e quando o fiz estava ainda incerto da reacção da planta.

Mas muito rapidamente percebi que a planta decerto tinha feito raízes novas suficientes para sobreviver por si própria pois os brotes estavam viçosos e com força.

Depois desta experiência com sucesso decidi que exemplares escavados com poucas raízes ou de muito boa qualidade, e para não haver o perigo de perder essas árvores são sempre embrulhados em gaze.
Quero salientar que só tenho experiência utilizando este método com folhosas ou árvores de folha caduca,nunca o utilizei com coníferas.
Prefiro gastar alguns euros comprando gaze do que perder uma árvore com potencial.

As fotos são de um Myrtus (escavado num sitio muito difícil e virtualmente sem raízes) que pelas suas grandes dimensões (60 por 70 cm) e complexidade de linha de tronco e ramificação corria o risco de desidratar mas que como podem ver já começa a brotar, e de um Tamarix de muito potencial nos quais utilizei a técnica em questão.

Para finalizar, depois das plantas estabilizarem e quando tenho a certeza que podem sobreviver pelos seus próprios meios, paro as pulverizações dos troncos com gazes retirando estas com cuidado depois de as deixar secar no tronco por alguns dias monitorizando ao mesmo tempo a condição da árvore.

E por favor não vejam a publicação deste texto como a legitimação de uma corrida desenfreada aos Yamadori pois esta não é de todo a minha intenção.
A qualidade da árvore e o seu potencial como futuro Bonsai são as únicas bases para a recolha ou não de um determinado exemplar.
Depois vem a existência das melhores condições possiveis para o tratamento da planta após a recolha como segunda necessidade.

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